Histórias com Árbitros - De como corromper dois árbitros com 250 €

Como é que se corrompe um árbitro? É fácil, é difícil? ‘A melhor forma’ – disse-me em noite de confidências o velho ex-presidente de um grande clube – é ‘falar’ com um dos bandeirinhas, são mais acessíveis e mais baratos. Quem assinala, ou não assinala, os offsides, os penáltis, as faltas junto à grande área? ‘Nunca dei um tostão a um árbitro!’
Lembrei-me desta história a propósito das recentes parangonas sobre a detenção em flagrante de um dirigente desportivo dos ‘distritais’ de Vila Real a entregar 250 € a dois árbitros, um deles agente da GNR e árbitro nas horas vagas. O incidente, uma tentativa de corrupção, parece ser frequente nos escalões mais baixos do futebol em certas zonas do País mas só veio à luz do dia porque um dos árbitros aliciados (curiosamente, o que não era da GNR) resolveu fazer a denúncia da situação a dois inspectores da PJ e estes, apesar da simplicidade do caso, fizeram escutas telefónicas ao alegado corruptor. Talvez por causa destes ingredientes, o caso viria a merecer as parangonas dos jornais desportivos e não desportivos, servindo, pelo menos, para mostrar o preço da honra de dois árbitros, sendo um deles militar da GNR: 125 €!
Bem sei que estamos em tempo de crise mas deve ser por estas e por outras que o sr. Vítor Pereira, o ‘patrão’ dos árbitros, promete há quatro anos a profissionalização dos ditos-cujos e que o sr. Pinto da Costa e outros fogem das escutas como o Diabo da cruz. Ainda há pouco mais de um ano, dois árbitros (andam sempre aos pares, como os patos e os polícias de giro) da AF Viseu, José Cunha e Fernando Dias, e dois dirigentes do Sporting de Lamego, Rodrigo Guedes e Jerónimo Medeiros, foram também detidos em flagrante… com 500 € entre mãos.
Está tudo na Justiça, que os deve chamar daqui por seis ou sete anos. Na memória de muita gente estarão ainda muitos casos de corrupção de árbitros em flagrante, desde o famoso processo Francisco Silva, apanhado pelo próprio ‘patrão’, ou seja, o então presidente do Conselho de Arbitragem e futuro advogado do sr. Pinto da Costa, o inefável Lourenço Pinto, que nunca revelou quem lhe fizera a denúncia (Francisco Silva seria, aliás, caso único, punido com a irradiação), aos casos de José Silvano, que se ‘retirou’ para Angola, ou o de José Guímaro, que se ‘retirou’ para a cadeia, mais o dos ‘quinhentinhos’ de Reinaldo Teles, etc., para tudo ir desembocar, como o Carnaval, não na quarta--feira de Cinzas mas no ‘Apito Dourado’. O que está a ser quase a mesma coisa…

Rui Cartaxana

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