Quase nada é novo no futebol

A crónica em baixo apresentada é da autoria de José Violante Guerra, e foi uma da coluna "Quase nada é novo no futebol" iniciada em Outubro de 2005 no jornal Diário do Sul. Pode consultar essas crónicas aqui e pode ler algumas que abordam o tema da arbitragem de futebol das quais destaco:

"Repetir ...repetir...repetir!"; "Pela boca dos outros"; "Apitar e relatar!"; "Juíz"; "Será velho um árbitro com 45 anos?"; "São piores os árbitros de hoje?"; "Penalties que parecem ser"; "Há uma equipa no futebol que não tem adeptos"; "Árbitros profissionais" entre outros


Aqui transcrevo uma dessas crónicas: "O único que não pode errar!"

Hoje vamos transcrever quase na integra um artigo publicado pelo Mestre Joaquim Campos em 1957 sobre um tema actualíssimo a dualidade de critérios que segundo aquele conhecedor dos temos da arbitragem é o corolário de paixões e do desconhecimento das leis.
Vamos então ler com atenção o que escrevia o Mestre Joaquim Campos nos finais do anos cinquenta:
Os árbitros são considerados hoje por essa plêiade de indivíduos verdadeiros obreiros das derrotas das suas equipas, homens se escrúpulos, olhados com desdém e ameaçados a cada passo que dão na rua, enxovalhados e criticados infimamente por pessoas sem um mínimo de cultura só porque vêem nele o culpado de todo o estendal de insucessos do clube com o qual sonham e pelo qual são capazes de tudo. Comentam o labor do árbitro, indivíduos que nunca se deram ao trabalho de abrir uma única vez o Regulamento pelo qual se rege o futebol, que se indignam e ameaçam o juiz de campo só porque os espectadores que estão sentados à sua volta vociferam e clamam contra a acção do director da partida.
Não vale a pena perguntar-lhes porque protestam pois a desilusão seria total. Dizem que há um ror de tempo a que aquele senhor anda na arbitragem só para prejudicar o seu clube, que leva a tabela da classificação no bolso do seu casaco de árbitro, inventam coisas a seu respeito só com o fito de os difamarem, argumentam mil e um motivos para os colocarem em plano de descrença e desconfiança.
Às exclamações de desespero por um golo mal perdidos sucedem-se imediatamente a absolvição do jogador que falhou o remate só porque este ficou a olhar para a bota como que a considera-la culpada, foi infeliz porque acertou mal na bola, porque a relva estava ali mais levantada ou um ressalto caprichoso roubou-lhe a possibilidade de êxito no disparo.
Deitam as mão à cabeça quando o guarda redes consentiu um golo facilmente evitável mas saltam em sua defesa, e até dão uma salva de palmas quando colega lhe passa a mão pelas costas para o confortar, afirmando que ele não poderia ter visto partir o remate porque estava encoberto, que escorregou quando se preparava para defender, que o pontapé levava efeito, etc. Enfim que houve infelicidade no lance.
Porém, se o árbitro falha na marcação de uma grande penalidade, se assinala um fora de jogo que não existiu, se considera legal um golo falso ou anula um que a todos parece válido, então já não é infeliz, mas sim desonesto.
Estão na moda as claques mimosearem o juiz de campo com tão pouco dignificante piropo e com a sem cerimónia que o fariam a apoiar a sua equipa. Para eles o árbitro é a única pessoa que não pode errar.
A perfilhar a doutrina de tais senhores, uma vez que não há ninguém que não erre, teríamos um Mundo formado por desonestos.
Desonesto seria o empregado que se serve da borracha para apagar uma conta mal feita porque a fez errada; desonesto seria o comerciante que falha uma transacção quando a imaginava de fins lucrativos e ela deu prejuízo; desonesto seria o técnico que introduziu uma táctica errada na sua equipa que a levou à derrota.
Nunca se soube nem nunca se quis por em equação que se o avançado não falha um golo certo de maneira propositada ou o guarda redes deixa entrar um golo infantil só pelo prazer de ver a bola colada ás malhas, também o árbitro não se considerará lisonjeado por falhara nas suas decisões que não só afectarão o seu prestigio como também enfraquecerão o seu conceito”.
A agora digam-se mudou alguma coisa desde 1957 até hoje? Sim, no tempo de Salazar, não havia corruptos, só desonesto.

José Violante Guerra

0 Comments:

Post a Comment




 

Copyright 2006| Blogger Templates by GeckoandFly modified and converted to Blogger Beta by Blogcrowds.
No part of the content or the blog may be reproduced without prior written permission.