Dificuldades dos árbitros

"No campo, de onde estou, não consigo dizer com toda a certeza que a bola entrou totalmente. E assim sendo não posso validar o golo"
José Lima

Valeu a Duarte Gomes e ao assistente José Lima que, no momento em que Nilson tirou de dentro da baliza um remate de Hélder Postiga, o Sporting já estivesse a vencer o Guimarães por 2-0. Caso contrário, a semana voltaria a ser de suspeição e ameaça de castigo. Assim, vale a pena pensar na argumentação de José Lima à Rádio Renascença, à qual garante que, de onde estava, não podia garantir "com toda a certeza" que a bola entrou. Nem ele nem nenhum humano.
O caso do golo de Postiga até é dos fáceis de resolver, com o chip na bola, acendendo uma luz a cada vez que esta passa por inteiro a linha de baliza. Mais difícil é satisfazer, por exemplo, Luiz Felipe Scolari, cujo Chelsea perdeu em casa com o Arsenal depois de estar a ganhar, com a reviravolta a começar num golo em fora-de-jogo de Van Persie. Scolari exigiu um pedido de desculpas, mas era bom que o futebol pudesse ir mais longe, introduzindo o quinto árbitro, não no campo mas numa régie de televisão, onde teria acesso imediato a todas as imagens das várias câmaras, podendo, em poucos segundos, rever o ângulo mais favorável e alertar o juiz principal.
Os argumentos contra esta medida, que validaria o golo de Postiga a invalidaria o de Van Persie, têm sido inúmeros, embora à cabeça surjam três. Todos errados. O primeiro é o que alega que verificar uma decisão demora muito tempo. Só quem nunca esteve numa régie de televisão pode dizer isso - e os senhores da FIFA seguramente já estiveram. Rever o "instant replay" de uma ou duas câmaras faz-se em 30 segundos e, com a habituação e a especialização, os "quintos árbitros" passariam a fazê-lo cada vez melhor. Se não quisessem interferir muito no jogo podiam fazê-lo só em casos em que, à boa maneira do futebol americano, o treinador usasse uma de duas hipóteses que têm por jogo para "desafiar" a decisão do árbitro.
Fala-se depois da injustiça de este modelo não poder ser aplicado a todos os clubes e a todas as jogadas. É verdade. O processo necessitaria de meios técnicos só possíveis em competições de elite e só poderia ser aplicado pela positiva - é possível anular uma jogada em fora-de-jogo, mas já não se pode mandar seguir uma jogada que o árbitro interrompeu mal, por exemplo. Isso, porém, não pode ser argumento: não é por a mercearia de bairro não ter vídeo-vigilância que os hipermercados deixam de a utilizar. Por fim, alegam os árbitros que com este sistema o juiz principal perderia autoridade mas, de todos, esse é o argumento mais ridículo. É que basta ver futebol com regularidade para perceber que, em boa parte dos lances, quem manda já é o auxiliar. Disse-o o próprio José Lima: "Naquele lance, a decisão é minha". Antes não fosse.

texto do jornal O Jogo

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