A opinião de ... Rui Cartaxana (Jornal Record)

Um intelectual entre os árbitros

O sr. Vítor Pereira, ex-árbitro e presidente da Comissão de Arbitragem (CD) da Liga, sempre fez questão de se demarcar do resto dos seus pares, especialmente numa altura em que entre eles não apareciam árbitros com habilitações académicas mais, ia a dizer, respeitáveis. Fez-se cronista e opinador ainda em pleno exercício das suas funções de árbitro, ao contrário de quase todos os outros, aparecia com frequência a dar opiniões e a marcar posição, em contraste com a atitude silenciosa, meio conformada e fatalista dos outros. Elevado à categoria de presidente da CD da Liga, uma espécie de “patrão” dos árbitros, o sr. Pereira assumiu uma posição algo superior e paternalista, mas distanciada.
Era, sempre foi, contra a profissionalização dos árbitros, mas com a mudança de estatuto, passou a defendê-la, já a anunciou mesmo como um projecto, por mais de uma vez, até descobrir a semi-profissionalização, que é uma coisa que ninguém sabe o que é, nem ele explicou o que seja. Mas continua tudo na mesma, porque, no fundo, a maioria dos árbitros rejeita uma e outra, e o que quer é indefinição do actual estado de coisas, em que, como diz o povo, continua a “comer a vários carrinhos”.
Mas o “golpe de mestre” de Pereira foi a recente alteração do regulamento que ele conseguiu retirando aos clubes a capacidade de acesso às notas dos observadores, a partir do qual podiam recorrer delas e intervir no processo. Ainda não percebi como é que ele soube convencer a maioria dos clubes (dos grandes, só o Sporting votou contra) a aceitarem uma situação que só lhes retirou poderes e os concentrou nas mãos dele, Vítor Pereira.
Agora, a propósito da embrulhada da arbitragem de Bruno Paixão, Pereira entendeu quebrar “a reserva de silêncio” com que habitualmente se resguarda das dificuldades para, no seu melhor estilo, vir a público dizer, com o seu ar de superioridade, coisas como “estes árbitros são os que temos”, eles “estão no limite das suas capacidades” ou, numa irónica referência aos clubes, “não posso ir ao mercado de Inverno”, como quem diz, e repisa, que tem um “plantel” sem nível e a precisar de reforços.
O seu ex-subordinado Paulo Paraty, agora candidato a presidente da APAF, não esteve com meias medidas e saiu-lhe ao caminho a dizer que não sabia bem se tais declarações eram “homicidas ou suicidas”, o que me parece uma boa síntese. Quando os jornalistas lhe propuseram como tema a “crucificação”em marcha do árbitro Bruno Paixão, Pereira ajeitou com um ar elegante a figura e replicou: “É um assunto intelectualmente interessante, mas não vou entrar nele…”

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