Crónica de Eugénio Queirós no Jornal Record

Crónica de um Jornalista que costuma acompanhar a arbitragem nacional. Podem vê-lo na foto a dialogar com Vítor Pereira no Estágio de Melgaço. O título da última crónica foi:


"Aqui compram-se árbitros"
A pressão sobre a arbitragem portuguesa é pública e notória. Com 77 elementos no seu plantel - entre árbitros e árbitros assistentes - e um orçamento mínimo de 3 milhões de euros, a 33.ª equipa das Ligas profissionais está exposta a raios gama, infravermelhos, laser e mesmo a ataques químicos. A fórmula para o conseguir, aliás, é conhecida: "Quem não chora, não mama + Os Fins Justificam os Meios".
O árbitro continua a ser o mais desprotegido dos protagonistas do futebol. Tudo se explica até pelo facto de se considerar que nem deve ser protagonista. Há futebol sem árbitros mas o bom vinho não se bebe nas tascas. Sem os apitadores, o "association" seria apenas um alegre convívio que podia acabar mal. Com eles também em acção e as respectivas 17 leis, é um jogo apaixonante, sempre moderno, sempre avassalador.
Durante muitos anos, o árbitro vestiu de preto. O objectivo não era obter um bom contraste com as cores dos cartões. Vestiram-lhe apenas uma espécie de luto eterno e deram-lhe dois guarda-linhas da CP como auxiliares. Os três ficaram a ver passar os comboios durante muitos anos, subordinados aos diversos interesses e subjugados por dirigentes tão venéreos como a sífilis.
Felizmente os tempos mudaram. Alguns árbitros subiram à boca de cena e deixaram de ser figurantes. Pier Luigi Colina, por exemplo. A surpresa foi geral: afinal, o "homem de negro" podia acrescentar sal e pimenta aos ingredientes do espectáculo. Para espanto ainda maior, os árbitros começaram a falar - e logo se verificou que também eram seres pensantes.Cá pela terra, a revolução continua incipiente. Os últimos grandes árbitros portugueses - António Garrido (o ET), Carlos Valente e Vítor Pereira - não conseguiram ser consensuais. Nem podiam. Todos eles foram conotados com o clube A, B ou C. De todos eles se recordaram sobretudo os erros e não os acertos.
Há estudos que dizem que um árbitro tem, num jogo, uma percentagem de acerto acima de 95 por cento num total estúpido de decisões e de decisões não tomadas. Mas o que é que interessa a estatística quando o importante é discutir uma grande penalidade mal assinalada por um árbitro assistente que não auxiliou? Nada, apenas ruído.
Como o ridículo não mata, é sem espanto que se verifica que um jogo foi estragado e que a verdade desportiva foi adulterada porque um árbitro marcou uma grande penalidade que resultou num golo e na expulsão de um jogador. O pormenor aqui é o facto de o jogo estar resolvido, pois a equipa da casa vencia já por 3-0, e também o facto de, independentemente de ser penálti ou não, o cartão vermelho ter sido bem mostrado.
Não sei porque, no caso de que todos já sabem de que estou a falar, sem precisar de um esclarecimento de Octávio Machado, mestre neste tipo de ambiguidades, ninguém culpou o guarda-redes do Sporting de não ter defendido a grande penalidade! Obviamente que não. Porque, como repetiu Paulo Bento depois de dois frangos de Rui Patrício, na última época, o mais importante é "defender o jogador". Quanto ao árbitro, nem por isso. O que mais se agrava quando o próprio presidente dos árbitros desaparece de cena ao primeiro sinal de polémica, atirando para a boca do canhão o habitual peão de brega.
Autor: EUGÉNIO QUEIRÓS

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