Um bom trio do Porto

Reportagem do Jornal O Jogo na sua edição do passado domingo.
Três da tarde, estádio do Aliados de Lordelo. Foi ali, no campo do clube da vila com pouco mais de 10 mil habitantes onde nasceu e reside, que combinámos o encontro com Jorge Sousa, primeiro classificado de 2007/08 do quadro de 25 árbitros dos campeonatos profissionais. À entrada, mais de 20 futuros craques do clube fundado em 1950 esperam ansiosamente pela hora do jogo com o Gondim, o último da época dos infantis dos Distritais da AF Porto. Estava um calor abrasador. Mesmo assim, os miúdos não se importavam. "Vamos jogar na relva pedrada", dizia um deles, enquanto um outro respondia a uma pergunta de um amigo relacionada com as notas. "Tiveste quase tudo cincos? Eu tive dois e já foi bem bom."
Pouco depois, chegava Jorge Sousa, com Artur Soares Dias ao volante. Cumprimentos, abraços dos técnicos dos infantis e, por solicitação nossa, a abertura das portas do estádio. "Temos que esperar pelo director?", perguntámos. Jorge Sousa, com toda a calma, desloca-se até a uma das portas dos balneários e traz as chaves. Subimos ao relvado, cumpriu-se o ritual das fotografias e, entretanto, Jorge Sousa sugere "um café" para conversarmos. Dissemos que tínhamos de esperar mais uns minutos, estava a chegar uma surpresa, a prenda de O JOGO para o árbitro que fez 33 anos no dia em que soube que era o melhor de 2007/08. "Surpresa?", Jorge Sousa fica intrigado. Descobre que o amigo Artur sabia quem era, mas não tira uma palavra do segundo árbitro mais novo do quadro da Liga - o mais novo é o transmontano Rui Silva. Chega então Bertino Miranda, "bicampeão dos assistentes", que acompanhou Jorge Sousa em quatro jogos na época passada (os outros assistentes do árbitro nascido a 18 de Junho de 1989 foram José Luís Melo, José Ramalho, António Vilaça, Vítor Carvalho e João Santos).
Estava reunido um bom trio do Porto. Dois internacionais e líderes das respectivas classificações, e um outro, Artur Soares Dias, filho de um ex-árbitro e colunista de O JOGO, a quem deixou uma dedicatória especial. A família é, aliás, sublinhada por qualquer um destes árbitros: "Imprescindível", defendem.
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Confissões
Passatempos preferidos: Golfe, ski e viajar
O apito "é um instrumento", o Apito Dourado "uma tristeza", os dirigentes não passam de "pessoas que fazem parte do futebol, os treinadores são líderes, os jogadores são craques e família fundamental". Estas, algumas confissões de Artur Soares Dias, licenciado no Instituto Superior de Línguas e Administração (ISLA) de Vila Nova de Gaia. Nova Iorque é vista como "uma cidade de sonho" pelo árbitro da AF Porto que adora viajar, jogar golfe, praticar ski e ir ao cinema. "Vejo filmes todos os domingos à noite, mas dez minutos depois de sair de uma das salas de um centro comercial de Gaia já não me lembro do filme que acabei de ver". Por isso mesmo, é que não se lembra do filme que mais o marcou.
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Apito Dourado
Nome de código mal escolhido
Um desafio, simples e directo: fazer um breve comentário a matérias ligadas ou não à arbitragem ou ao futebol. Apito Dourado? "Um nome de código mal escolhido", respondeu Jorge Sousa, explicando: "Quando se atribuiu esse nome de código a essa investigação ficou-se com a ideia de que isto seria algo relacionado com árbitros e, no fundo, os árbitros envolvidos são uma minoria no universo total das pessoas implicadas". Mais perguntas, mais respostas prontas: dirigentes? "Deixem-nos trabalhar"; treinadores? "Ponham o pessoal a jogar"; jogadores? "Brilhem, divirtam as pessoas". Outras questões: Filme da vida? "Gostei muito de Ben-Hur e da Tempestade"; uma viagem de sonho? "México".
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Sporting-Benfica
Um jogo muito divertido
Bertino Miranda foi um dos assistentes de Jorge Sousa no célebre 5-3 do Sporting ao Benfica (o outro foi José Luís Melo), nas meias-finais da Taça de Portugal de 2007/08. "Esse jogo foi muito divertido, no final do jogo estávamos todos muito felizes, e ainda teve um prémio: foi disputado na véspera do dia em que nasceu a filha do Jorge, portanto, estávamos todos bem dispostos e acabou por correr muito bem". Outras confissões do escriturário que está a tirar a licenciatura em Contabilidade e Administração: "Os meus passatempos? Estar com a família e brincar com a Luísa, a minha filha de seis anos". Faltava, claro, saber como define a bandeirinha: "A minha ferramenta".
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Jorge Sousa
"A minha melhor época ainda está para chegar"
Primeiro, duas dedicatórias: à família e a todos os assistentes, em especial José Luís e José Ramalho.
Depois, Jorge Sousa responde a uma questão muito simples: até onde pensa que pode chegar? "Desde sempre que os meus objectivos foram pensados a curto prazo. Nunca estipulei metas a médio ou a longo prazo. O meu objectivo é quase como o dos treinadores ou dos jogadores: jogo a jogo. O meu objectivo imediato é preparar-me bem para o curso de Melgaço [começa dia 22]. Ou seja, quero estar bem preparado física, técnica e mentalmente para o início de época, com a intenção de encarar os jogos de uma forma séria e responsável."
Embora tenha ficado pela primeira vez na frente da tabela classificativa dos árbitros, Jorge Sousa espera fazer muito mais: "Não acho que tenha sido a melhor de sempre. A minha melhor época de sempre ainda está para chegar", garante.
O internacional do Porto diz ainda que nunca imaginaria ser primeiro classificado do quadro de árbitros dos campeonatos profissionais quando decidiu entrar "numa actividade aliciante": "Quando estava a tirar o curso de árbitros nem me imaginava a apitar um jogo, quanto mais em ser primeiro classificado de seja o que for. Posso até dizer que comecei na arbitragem sem querer."
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Artur Soares Dias"Devo ao meu pai o sonho que estou a viver"
Artur Soares Dias não se esquece do último jogo da carreira do pai, no Funchal. "Fui com ele e ofereceu-me a camisola". Uma prenda entretanto retribuída: "Numa época que me correu especialmente bem, também nos Barreiros, tive a oportunidade de lhe oferecer a camisola", confidencia, sublinhando a importância que Soares Dias, ex-árbitro de 1ª categoria, na sua evolução: "A influência que é exercida pelas pessoas que a rodeiam é motivo de sucesso ou insucesso. O meu pai é um motivo de orgulho e de sucesso para mim. Devo-lhe muito do sonho que estou a viver desde que subi à 1ª categoria há três anos".
Continuar a trabalhar para "atingir mais altos voos" é o objectivo do árbitro que ficou em terceiro lugar "fruto do trabalho e da dedicação, como nunca tinha feito até ao momento, e das oportunidades" que lhe foram dadas. E também, claro, pela forma como conseguiu "ultrapassar verdadeiras provas de fogo".
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Bertino Miranda"Falta-me um Europeu ou um Mundial"
"Sou bi, bicampeão", diz Bertino Miranda. Uma tirada que merecia uma pergunta simples: qual a sensação de ser bicampeão dos assistentes? "A melhor é sempre a primeira vez", acrescenta com mais risos por parte dos amigos Jorge Sousa e Artur Soares Dias. Esta época, acabou por não ser muito complicada. "Desde que fiquei em primeiro lugar, as épocas são todas fáceis. Encaramos tudo com outra confiança, com outra convicção", argumenta.
Um discurso que não impede Bertino Miranda de apontar metas ambiciosas para atingir num futuro próximo: "Ainda me falta alcançar tudo, porque no fundo não alcancei nada! Não ando na arbitragem para ficar em primeiro lugar, mas para arbitrar jogos. Falta-me fazer a fase final de um Europeu ou de um Mundial. Esses é que são os meus grandes objectivos, os meus grandes sonhos na arbitragem", observa o árbitro-assistente que agradece a influência do irmão Vítor, também árbitro, e de um amigo de infância.

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