"Sou a besta negra da arbitragem, não tive juízo" diz Rui Mendes que espoletou o «Apito Dourado»
Publicada por Dinis Gorjão à(s) 00:43Numa altura em que o caso Apito Dourado cumpre o seu 5º aniversário recordamos talvez aquele que foi o seu início numa reportagem retirada do ioldiário.pt
Rui Mendes, o árbitro que espoletou o caso «Apito Dourado», sentia-se prejudicado com as classificações. A gota de água foi o jogo Campomaiorense-Leiria, em Outubro de 2000. «Achei que estava a ser prejudicado e decidi falar com o então presidente da Liga, Valentim Loureiro».
«Vim a Gondomar falar com o major», contou o ex-arguido, em tribunal. Quem lhe ligou a agendar o dia do encontro foi o vice-presidente da autarquia, José Luís Oliveira, também presidente do Gondomar (GSC), facto que a testemunha desconhecia.
Recorda-se que na altura em que se dirigiu à Câmara foi recebido por Oliveira, a quem se juntou Valentim. «Lembro-me que o senhor major disse que a minha classificação era preocupante, que eu estava em maus lençóis».
O árbitro respondeu-lhe que estava mais preocupado em perceber o que se tinha passado no Campomaiorense-União de Leiria.
«Mande-me o homem que ele aceita»
A «classificação é recuperável», ter-lhe-á dito Valentim, que saiu da sala, deixando-o a sós com o presidente do clube de Gondomar.
Nessa altura, José Luís Oliveira relatou-lhe as dificuldades por que o clube passava. De seguida, «perguntou-me se eu estava preparado para fazer o jogo do Gondomar». «Eu disse que sim».
Acto contínuo, o presidente do GSC «pegou no telefone fixo» e terá dito a alguém, que Rui Mendes não conseguiu identificar: «Mande-me o homem que ele aceita. E para o Gondomar-Bragança mande-me o Vasco Vilela». «O que sei é que as nomeações se confirmaram», disse.
A designação dos árbitros competia ao Conselho de Arbitragem da Federação, presididido por Pinto de Sousa e integrado por Francisco Costa, também arguido no processo.
«Vinha denunciar uma situação e já estava metido noutra»
«Para bom entendedor, meia palavra basta». «Entendi que eventualmente o jogo era
para beneficiar o Gondomar». «Vinha denunciar uma situação e já estava metido noutra», contou a testemunha.
«A sua contrapartida era não descer de categoria?», questionou o procurador, ao que Mendes respondeu: «Não sou burro e quando o major disse que a situação era recuperável, percebi que estava ali qualquer coisa».
O jogo ficou empatado e o Gondomar não desceu de divisão. «O Gondomar teve mais sorte do que o senhor, não é?», inquiriu o procurador, numa alusão ao facto de o árbitro ter descido de categoria.
Questionado sobre se recebeu alguma oferta, esclareceu que não. «Não houve oferta nenhuma».
«De onde retirou que era pedido que beneficiasse o Gondomar?
À pergunta do advogado de Oliveira, [«De onde retirou que era pedido que beneficiasse o Gondomar?»], a testemunha respondeu de forma categórica: «Quando me perguntam se estou preparado para apitar o Gondomar e se aceito, para mim são sinais suficientes».
Momentos antes, o árbitro tinha admitido em audiência: «Entendi perfeitamente que era preciso beneficiar o Gondomar». O jogo em causa constava da acusação, mas caiu na fase instrutória.
«O senhor José Oliveira pediu-lhe para beneficiar o Gondomar?», inquiriu o advogado Artur Marques. «Nesses termos, não», respondeu. «E ofereceu-lhe alguma coisa?», insistiu o causídico. «Não».
Ao longo da carreira, Rui Mendes recebeu várias lembranças. «Relógios (de pequeno valor), doçaria da região», «sempre no final dos jogos».
«Alguma vez recebeu objectos em ouro?», questionou o juiz. «Sim, já recebi uns apitos pequeninos em ouro». «Apitos Dourados, portanto», ironizou Caneiro da Silva, arrancando uma gargalhada da sala.
Aos jornalistas, Rui Mendes confessou que não imaginava a dimensão do problema no futebol. «Sou a besta negra da arbitragem, manda quem pode e obedece quem tem juízo. Eu não tive juízo», acrescentando que «se fosse hoje, teria feito as coisas de outra maneira», numa alusão ao facto de ter denunciado o caso. «Fiz as denúncias em 2001 e só em 2003 começaram as escutas», estranhou.
O julgamento prossegue amanhã com a audição de mais cinco testemunhas, entre elas Carolina Salgado.

Recorda-se que na altura em que se dirigiu à Câmara foi recebido por Oliveira, a quem se juntou Valentim. «Lembro-me que o senhor major disse que a minha classificação era preocupante, que eu estava em maus lençóis».
O árbitro respondeu-lhe que estava mais preocupado em perceber o que se tinha passado no Campomaiorense-União de Leiria.
«Mande-me o homem que ele aceita»
A «classificação é recuperável», ter-lhe-á dito Valentim, que saiu da sala, deixando-o a sós com o presidente do clube de Gondomar.
Nessa altura, José Luís Oliveira relatou-lhe as dificuldades por que o clube passava. De seguida, «perguntou-me se eu estava preparado para fazer o jogo do Gondomar». «Eu disse que sim».
Acto contínuo, o presidente do GSC «pegou no telefone fixo» e terá dito a alguém, que Rui Mendes não conseguiu identificar: «Mande-me o homem que ele aceita. E para o Gondomar-Bragança mande-me o Vasco Vilela». «O que sei é que as nomeações se confirmaram», disse.
A designação dos árbitros competia ao Conselho de Arbitragem da Federação, presididido por Pinto de Sousa e integrado por Francisco Costa, também arguido no processo.
«Vinha denunciar uma situação e já estava metido noutra»
«Para bom entendedor, meia palavra basta». «Entendi que eventualmente o jogo era

«A sua contrapartida era não descer de categoria?», questionou o procurador, ao que Mendes respondeu: «Não sou burro e quando o major disse que a situação era recuperável, percebi que estava ali qualquer coisa».
O jogo ficou empatado e o Gondomar não desceu de divisão. «O Gondomar teve mais sorte do que o senhor, não é?», inquiriu o procurador, numa alusão ao facto de o árbitro ter descido de categoria.
Questionado sobre se recebeu alguma oferta, esclareceu que não. «Não houve oferta nenhuma».
«De onde retirou que era pedido que beneficiasse o Gondomar?
À pergunta do advogado de Oliveira, [«De onde retirou que era pedido que beneficiasse o Gondomar?»], a testemunha respondeu de forma categórica: «Quando me perguntam se estou preparado para apitar o Gondomar e se aceito, para mim são sinais suficientes».
Momentos antes, o árbitro tinha admitido em audiência: «Entendi perfeitamente que era preciso beneficiar o Gondomar». O jogo em causa constava da acusação, mas caiu na fase instrutória.

Ao longo da carreira, Rui Mendes recebeu várias lembranças. «Relógios (de pequeno valor), doçaria da região», «sempre no final dos jogos».
«Alguma vez recebeu objectos em ouro?», questionou o juiz. «Sim, já recebi uns apitos pequeninos em ouro». «Apitos Dourados, portanto», ironizou Caneiro da Silva, arrancando uma gargalhada da sala.
Aos jornalistas, Rui Mendes confessou que não imaginava a dimensão do problema no futebol. «Sou a besta negra da arbitragem, manda quem pode e obedece quem tem juízo. Eu não tive juízo», acrescentando que «se fosse hoje, teria feito as coisas de outra maneira», numa alusão ao facto de ter denunciado o caso. «Fiz as denúncias em 2001 e só em 2003 começaram as escutas», estranhou.
O julgamento prossegue amanhã com a audição de mais cinco testemunhas, entre elas Carolina Salgado.
Etiquetas: NOTÍCIAS
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