Crónica de Jorge Coroado ontem no Jornal O JOGO

Apito final: Onde está o mal?


Fala-se amiúde no estado do futebol português, nas específicas dificuldades de cada um dos emblemas, das razões, motivações e preocupações que a todos afectam. Tempos houve que os principais responsáveis se constituíam em efectivos mecenas, gente capaz de perante dificuldades reconhecidas solver compromissos imediatos, nomeadamente o pagamento da factura salarial. Mudaram-se os tempos, os endinheirados já nada dão ao futebol, chegam-se a ele para acrescentarem mais uns pós de notoriedade às características especuladoras que os norteiam. Hoje, mais que ontem, a gestão exige ser feita com realismo, pede gente determinada, preocupada e interessada na procura de soluções e concretização de projectos, obriga que as pessoas sejam capazes de encararem os problemas, solucionarem-nos mesmo que forçados a medidas impopulares e socialmente desagradáveis. Apesar das vicissitudes de um mercado limitado e do franco reconhecimento das condicionantes existentes, há quem anunciando-se defensor das cores a que se propõe para dirigente, após eleito e na ânsia de miríficos títulos, demonstre irresponsabilidade atroz, exponencie orçamentos e contrate jogadores, não cuidando de saber se vai cumprir com o contratado. Muitos dirigentes dizem que são os sócios quem, ao exercerem o direito de o voto, mandam nos clubes. Será assim? Alguma vez, no momento de colocarem o voto na urna, estarão os sócios verdadeiramente elucidados sobre o perfil dos candidatos, do respectivo percurso profissional, obra feita, rigor advogado, comportamento social, virtudes, defeitos e vícios que eles possam carregar? Estará algum ex libris imune à hipótese de ver sentada na sua principal cadeira gente cujo sentido de responsabilidade social se dilui em vícios perniciosos, destruidores de estabilidade económica e bem-estar familiar? Que imagem, consequências e males poderão afectar a equipa de futebol e o todo de qualquer clube se um qualquer presidente de direcção eleito ou a eleger, pelo seu passado permitir que os colaboradores próximos se apercebam de fragilidades comprometedoras ao invés de conseguir passar imagem de rigor, probidade, elegância, critério, justiça e equilíbrio? O mal não está no futebol, está naqueles que pretendendo perpetuarem-se no poder engendram nomes, influenciam vontades, minam as estruturas.
in o jogo.pt

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